Devido a um texto publicado no blog O CURSO DAS ESTRELAS, recordei um outro escrito por mim numa altura conturbada da minha vida. Recordei-me que nunca o publiquei e recordei-me que não deixou de ser um documento importante apesar de já não me provocar dor. Devido a tudo isto, terei muito gosto em finalmente dá-lo a ler. Infelizmente, nunca o datei. Presumo que pertença a inicios de 2002. UMA PEQUENA OBSERVAÇÃO: Este texto é um autêntico melodrama.
UMA SEGUNDA OBSERVAÇÃO: Visto esta situação ser verídica, decidi proteger o nome da pessoa citada.
O TELEFONEMA
"De repente, veio-me à cabeça o M.! E para dentro de mim entrou uma sensação de desespero. A certeza da solidão. A nostalgia da ternura. O medo de perder ou de já ter perdido. Enfim... Anos que passaram depressa e que poderiam ter sido p’rá vida inteira. O amor dos meus sonhos, aquele que só existe em filmes. Mas a vida já é um filme!
Comecei a chorar como uma criança que se perdeu na feira, amedrontada por achar que não consegue viver longe do carinho dos pais! Este filme é real. Este é o filme da minha vida! E por isso comecei a chorar. Chorei desalmadamente sentindo que só tinha o chão para me apoiar! Chorei por um final tão triste. Por um filme com final forçado como se o argumentista não soubesse o que haveria de fazer a estas personagens! Mas já que o filme era verídico, existia ainda a hipótese de serem as próprias personagens a alterarem o guião. É um dom dado aos protagonistas das histórias verídicas. O filme não podia terminar assim.
E por isso tomei uma atitude e telefonei para casa. A cada toque, mil batidas no coração! O gravador atendeu e os nervos surgiram à flor da pele. Quis deixar mensagem! Era urgente mudar o rumo da história como se fosse a minha própria vida que estivesse em jogo. No auscultador ouvia-se a voz séria de um homem simpático:
-Olá. Daqui M. J. . De momento não posso atender mas agradecia que deixasse a sua mensagem.
As minhas mãos tremiam como varas verdes.
Como em qualquer filme hollywoodesco que se preze, existe sempre um tema musical que dá a ênfase à história. E embora não seja pessoa que ache que deva cantar bem, cantei! Cantei “I’ll Be Seeing You” lembrando-me do CD da Sarah Vaughan ao vivo no Tivoli de Copenhagen que ele me ofereceu pelo aniversário. Embora sem o acompanhamento da orquestra, os sons instrumentais acompanhavam a minha voz em pensamento. Os soluços impediam-me de cantar melhor mas o refrão ainda ia a meio. Era a rejeição de um facto, da pura verdade, do fim... O genérico final já passava no écran mas existia ainda a hipótese da parte 2 na esperança de que a sequela já pudesse ter o final desejado: o feliz, aquele em que vivem juntos para sempre.
E pronto! Agora vinha aquela cena em que se tem que suplicar e fazer acreditar ao outro de que nada foi em vão. Foi tudo por amor! Neste momento, o orgulho já cá não estava. Foi comprar tabaco e achou melhor não voltar tão cedo. As lágrimas lavavam-me a cara e a minha voz fraquejava a cada palavra. Se existissem os óscares da vida real, pelo menos um já estava no papo! Ganha-se óscares com facilidade quando se participa num melodrama e este é mesmo daqueles de chorar baba e ranho!
-Olá M. J. . De certeza que já percebeste quem fala. Um dia destes disseste que ninguém é insubstituível mas tu és insubstituível para mim pois uma parte do meu coração ficou aí contigo e esse bocado já ninguém to tira!
Para não dar a perceber aquilo que os olhos não escondem, sustive a respiração.
-Amo-te. É o que eu sinto. Eu ainda acredito em nós. E pronto... É melhor não dizer mais nada. Tu já sabes tudo. Um beijo cheio de saudades.
Se eu conhecesse o futuro, nunca teria feito este telefonema!"
FIM